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Engenhos são fascinantes e tem tudo a ver com a História do Nordeste brasileiro. Lá fui eu conhecer um super famoso aqui em Pernambuco – o Engenho Massangana, situado no Cabo de Santo Agostinho, uma cidade que fica a uns 37 km de distância de Recife.Bem cuidado, o engenho que teve um morador famoso guarda em seu conjunto capela, moenda e casa grande que vão te encantar com suas estórias e badaladas.
O ilustre morador do Massangana.
Esse engenho é famoso porque abrigou dos 0 aos 8 anos um cara bem famoso, oJoaquim Nabuco. Esse cara lutou pelo fim da escravidão no Brasil, era político, diplomata, fundou a Academia Brasileira de Letras… Nota-se que o rapaz era influente. Ele viveu de 1849 a 1910 e apesar de ter crescido num engenho, veja só as voltas que a vida dá, era um abolicionista. 
O baobá, árvore africana que representa força, e a casa grande do Massangana. Foto: naViagemcomCamila.
Pois o Engenho Massangana era o local onde Nabuquinho foi morar quando seus pais se mudaram para o Rio de Janeiro, a capital do império. Segundo minha guiana visita, a família evitara levar a criança na viagem de navio por causa das doenças que eram frequentes naquele tipo de viagem e Nabuco fica com sua madrinha, a Ana Rosa, viúva e dona do engenho.
E é com essa madrinha gordinha, que comandava o engenho de forma avançada para a época, afinal não havia tantos castigos físicos quanto em outros engenhos, que Nabuco vai crescendo.
Pronto, agora que vocês já sabem um pouco da história de Nabuco vamos ao engenho em si!
O Massangana tem uma casa grande do século XIX. A casa que Nabuco viveu foi totalmente reformada pelo seu primo Paulino. No livro de Nabuco em que ele fala da infância no engenho ele diz ter voltado lá já mais velho e não reconhecer a casa onde viveu. Então a casa é do século XIX e a capela é a original, do século XVIII. O conjunto do Massangana preserva a capela e casa grande apenas, não tem senzala.
Minha guia explicou que as senzalas geralmente eram feitas de material mais fraco e por isso não resistiram ao tempo. A disposição na colina onde o engenho está instalado é: no alto a capela, no meio a casa grande e lá embaixo, na entrada do engenho estima-se que ficava a senzala.
A moenda e o açúcar.
O engenho tem uma moenda imensa na parte externa. Essa moenda era usada para fazer a cana se transformar em cado que ia virar o açúcar. O açúcar era algo tão valioso que nem a família dona do engenho consumia a iguaria! Nada era adoçado na época. Os únicos doces que havia eram os feitos de frutas, aqueles doces em caldas, sabe?
Fiquei me imaginando naquela época sem doces! Teria de nascer muuuito rica para poder colocar açúcar no doces ou estaria fadada à uma vida sem doces. Que martírio, meu Deus!
As engrenagens da moenda. Por esse buraco entrava a cana que era esmagada até sair o caldo que iria se tornar o ouro branco. Foto: naViagemcomCamila.
A moenda que está na exposta é uma moenda de tração animal, ou seja, precisava dos animais para girar e fazer o caldo. Mas essa foi uma moenda emprestada de um engenho paraibano. No Massangana a moenda era movida pelas águas do rio Massangana.Pelo fato de estar em constante contato com a água essa moenda original não resistiu ao tempo.
Os móveis da casa grande.
A casa grande foi reformada e os móveis que estão lá dentro também não são os da época de Nabuco, mas são todos do século XIX e tem uns bem interessantes. No meio da sala chama atenção anamoradeira (ela tinha outros possíveis nomes: fuxiqueira ou conversadeira).
Ela era utilizada para as conversas entre pais e noivos e a intenção era fazer um móvel que permitisse as “conversas ao pé de ouvido“, sem tanta proximidade, afinal escovar os dentes nem pensar naquela época. Então se a coisa fosse cara a cara já viu, né? Não rolava casamento nenhum! Kakakakaka
Eu já tinha visto namoradeiras, mas só de 2 lugares, essa era uma jumbo: para 4 pessoas. O móvel realmente é uma graça. Segundo minha guia foi esse móvel que inspirou a expressão “segurar vela“, porque no centro dele ficavam as velas que iluminavam o ambiente.
Na casa há réplicas do que seria o quarto da madrinha de Nabuco, com direito a peniqueiro e tudo, e o de Nabuco. Há ainda os azulejos portugueses e uma mesinha de ferro, essa sim da época de Nabuco.
Os móveis do século XIX, a vista da janela da casa grande, azulejos portugueses e a sala de jantar. Fotos: naViagemcomCamila.
A capela e o sino.
Depois de visitar a casa grande é hora de conhecer a capela. Ela é bem simplesinha e eu não estava dando nada por ela, como se diz no popular. Lá nabuco foi batizado e tem uns bancos, no altar, do lado direito, está enterrada a madrinha de Nabuco e eis que vamos lá para cima da capela. No topo a gente tem uma visão linda lá da casa grande. Tem 2 sinos, um bem antigo, imenso e do ladinho dele um mais jovem. Aí minha guia anuncia: pode tocar o sino da capela.
O sino da capela é um evento, viu? Pode tocar e ficar ouvindo seus badalos ecoando no engenho. Foto: naViagemcomCamila.
Pirei que nem criança, gente! Parecia menino pequeno quando ganha doce! Você toca o sino e ouve ele ecoando pelo engenho. É fantástico! Por segundos parece que me teletransportei para o tempo em que tocavam aquele sino e as pessoas deviam vir chegando para a missa. Muiiito legal!
Depois fui entender que o logotipo do engenho, que é administrado pela Fundação Joaquim Nabuco, é um menino tocando o sino do engenho. Achei a sacada ótima! Gostei tanto tanto que fiz um vídeo tocando o sino. Só teve um probleminha: fiz o vídeo com a câmera deitada e não sei virar.:P Kakakakak Mas deixo aqui para vocês terem uma noção (pra saber mesmo só indo lá tocar) do quão legal é:
Como chegar lá?
Bem, essa não é tarefa das mais fáceis, vou tentar explicar. Nada de ônibus, metrô… Tem de ir de carro ou de excursão. Fui de carro e me perdi, e olhem que costumo andar por aquelas bandas.
Você vai sair de Recife rumo à Cabo de Santo Agostinho pela BR 101. Vai haver um momento em que você pode seguir em frente ou entrar à esquerda num viaduto que vai indicar o caminho de Porto de Galinhas. Vá à esquerda. Você vai passar uma área urbana (o Cabo de Santo Agostinho) com semáforos, e o nome Portal do Sol. Siga em frente rumo às praias.
Haverá um momento em que você terá entrado na PE 60 e vai ver na sua esquerda umposto da PRF. Siga em frente. Mais à frente do posto da polícia haverá um posto de gasolina. Entre à esquerda no posto e faça o retorno. Logo à frente você vai ver a placa do engenho. Não se assuste porque a estradinha é de terra, mas você não se perdeu, inclusive já chegou!
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